sábado, 16 de maio de 2009

man on wire


Nunca nos sentimos tão vivos quando por um fio escapamos de uma tragédia. É como se, andando distraídos pelas ruas da vida, não fossemos atingidos pelo carro que vem a 70 quilômetros por hora na direção oposta. Com sorte, quando a graça do escape nos ocorre, somos imediatamente tomados de uma energia vital descontrolada, seguida de um misto de culpa e alívio: Meu deus!, quase que.... Um limite indefinido, mas como que tangível, põe em paralelo a vida e a morte, e agente fica solto, meio pendente, bem no centro. Vim com essa sensação, a tira loco, do caminho entre o cinema, onde assisti ao documentário O Equilibrista, até em casa. O documentário de James Marsh conta a história de um homem que transforma seu sonho em realidade. Me perdoem a frase clichê, mas só ela mesma para definir a obsessão do jovem Phillippe Petit em cruzar pelos ares as torres gêmeas do World Trade Center, que à época, mil novecentos e setenta e poucos, eram o topo do mundo feito de concreto e aço. Sonhador ao extremo e encantador (como são todos que sonham acordados), é o próprio francês que narra o documentário com um entusiasmo e teatralidades sem igual.Olha que se trata de um coroa, bem conservado é verdade, mas coroa, o que me remete a outra pérola: “quem tem um sonho nunca envelhece”. Não dá pra esquecer a expressão compenetrada do jovem atravessando precipícios sobre cordas de aço, do rosto transmutando-se numa máscara de concentração, parecendo uma esfinge. Por estar tão próximo da morte, o equilibrista fazia da seriedade e da ousadia elemento sinequanon para permanecer vivo, como preconiza um de suas falas - “Para viver plenamente é preciso ir ao limite, andar na corda bamba, ver cada novo dia como um desafio”. O filme é um sopro de 90 minutos de poesia e vida. E a trilha sonora do Michal Nyman e J. Ralph e a fotografia (não lembro de quem era), lindas de morrer, são uma massagem aos sentidos. O filme levou o Oscar 2009 de melhor documentário.