sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

The Curious Case of Benjamin Button

Às vezes tenho medo de ter coisas boas porque, cedo ou tarde, as perdemos, fatalmente as perdemos, e ficamos tristes. Tenho medo de ter o cepticismo face à vida que tanta gente tem depois do confronto com a incompreensível e avassalante rapidez com que a vida nos tira o chão de debaixo dos pés e nos deixa pendentes no vazio. Os encontros na vida são tão raros que dói saber que no final da esquina acena um desencontro. Há um drama, um imenso drama que experimento nos momentos de alegria, a que chamo “saudade antecipada”. Para abrandá-lo, vez por outra me imponho o exercício de me conscientizar do não ter na hora de ter. Funciona mais ou menos assim: quando me sinto fortemente entusiasmada com algo, mentalizo: isto passará. Faço o mesmo, mas com bem menos freqüência, nos raros momentos de melancolia: isto também passará.

Talvez por isso o “The Curious Case of Benjamin Button” seja um dos contos do Fitzgerald que mais me dão um nó na garganta, de uma lista onde estão “O amor à noite”, “A Escada de Jacob” e o “Diamante do Tamanho do Ritz”. Fitzgerald é agridoce. Há sempre um infortúnio iminente pairando sobre suas personagens em todas as histórias, mesmo as com final feliz. Se tivessem trilha-sonora, os três primeiros versos de bittersweet synphony do The Verve lhes cairiam como uma luva. Não me recordo de alguma vez ter vertido uma lágrima depois de um ponto final do escritor norte-americano. Nó na garganta e perplexidade diante de algo grande, isso sim, frequentemente.

Em compensação foi impossível me conter ao assistir a adaptação para o cinema. A produção, ao contrário da adaptação sem tirar nem por do The Great Gatsby, passa tangente ao enredo original do conto. Ainda assim faz juz ao escritor quando descreve a tintas fortes e com beleza um simples entardecer, os ruídos da cidade em movimento, as rachaduras nas calçadas, o estalar do assoalho em casa. O roteiro para cinema criou com louvor uma experiência de vida, com todos seus altos e baixos, do túmulo ao berço, relativizando a efemeridade, os encontros e desencontros. Essa sensibilidade - latente neste e noutros contos de Fitzgerald – a produção levou ao extremo de forma impecável.

Na adaptação, Benjamin cresce numa casa de idosos, e consequentemente amadurece num mundo de pessoas em paz com sua própria mortalidade, não há muita coisa que o assuste. Portanto, ainda muito jovem, os aspectos mais profundos da morte lhe são familiares. Em ambos, o jovem Button é impacto por seus relacionamentos, lembrando com ardor de seu primeiro beijo, seu primeiro amor. Contudo, no conto, seu casamento com Hildergade se deteriora com o tempo:

“There was only one fly in the
delicious ointment--he hated to appear in public with his wife.
Hildegarde was almost fifty, and the sight of her made him feel
absurd....”


Enquanto isso, no cinema..
Benjamin conhece Daisy (Hildergade, do conto) quando ambos são crianças, ela visita assiduamente a avó em Nolan House, onde ele mora com os pais postiços. Uma história de amor se desenrola a partir desses encontros; a menina ruiva parece enxergar a criança que vive por baixo da sua superfície idosa e incapacitante. Definitivamente, há algo muito poético nessa condição, o filme mostra isso claramente. Imagine aceitar a idéia de envelhecer enquanto a pessoa que você ama caminha para a juventude? Not easy, nor fun. Ao contrário do filme, o conto não nos faz essa pergunta, não diretamente. Mas se há um mérito naquele é o de ter conseguido acentuar o elemento-chave deste, a saber, que é nos encontros que as perdas se instalam, em meio às transas complexas e difíceis dos relacionamentos afetivos.

Gosto de pensar que toda essa brincadeira funciona como uma espécie de treino, uma provocação de desencontros preparatórios para o grand finale. Qual o objetivo do jogo? Aceitar as inevitabilidades da vida. Entender que as pessoas vão e vêm, que elas partem, seja por opção ou por simplesmente ter deixado de existir. Da mesma forma que nós também partiremos. É um jogo sem ganhos, nem perdas. Do jeito que começamos, terminamos - calvos, banguelas e de fraldas; só a expressão no rosto é que muda, os risos gratuitos da aurora se vão, desconheço o destino. O final que nos diz respeito já conhecemos há tempos. O grande barato é como lidamos com tudo isso.

..de volta aos estúdios:
Diretor, intérpretes, fotografia, música e principalmente a cadência com que a narrativa nos é apresentada, sem dúvida, justificam os prêmios a que o filme está concorrendo.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

suave é a noite

Beijo de boa noite na filha, que lê.
− Mãe, você sempre me embaça os óculos.
A frase sai naturalmente, como quem diz “é...o serviço de meteorologia nunca dá uma dentro”. A mãe fecha a porta e deixa o quarto. Dois segundos depois, vem o charme avassalador.
− Mas dessa vez podereria ter sido diferente, né? − pergunta timidamente, enquanto minha alma ouve “você podia reclamar menos e apreciar o carinho da sua mãe”.
Aquiesço.
− Riqueza, a senhora não entendeu. A mensagem foi criptografada. Significa “você sempre me embaça os sentidos. Perco a concentração, sublimo”.
Silêncio.
− Boa noite, meu anjo − responde um sorriso em pessoa.
Olho no relógio, 22:20, os ponteiros também sorriem. Uma boa noite, é verdade.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

helping to write History

Em algum momento já falei aqui sobre o apreço que tenho por quem fala bonito, com elegância. Embora eu esteja a milhas e milhas de possuir o dom da retórica, ouso acreditar que tenho ouvidos sensíveis e reconhecedores de um bom orador. Os gregos tinham consciência desse traço distintivo e enalteciam-no. Afinal, foram eles que descobriram a civilização assente nas palavras. Saber retirar da capacidade da linguagem as consequências (agora sem trema) decorrentes dessa superioridade humana sobre todos os animais é algo a se admirar. Pois bem. Ajudado por seu carisma e retórica apurada, Obama ganhou popularidade ao longo da campanha e foi o candidato que melhor soube utilizar as palavras. Por isso, foi com um grande pasmo que descobri há pouco, lendo esta matéria no washingtonpost.com, o rapaz de 27 anos responsável por boa parte dos discursos do presidente eleito: Jon Favreau, Obama´s Chief Speechwriter. Do estilo despojado, calça jeans e camiseta, ele e sua equipe agora entrarão na Casa Branca metidos no terno e gravata. O que de forma alguma ameaça o espírito de mudança anunciado em seus escritos oficiais. Isso se nos basearmos no que ele diz ao jornal:

"We know that we're going to have to approach the White House our way and have some fun with it, because that kind of attitude is what made us successful."

"You had a bunch of kids working on this campaign together, and it was such a mix of the serious and momentous and just the silly ways that we are. For people in my generation, it was an unbelievable way to grow up."

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

hoje acordei assim




..feeling strangely fine =)