sábado, 29 de setembro de 2007

Chopin e Bach antes do casamento

O Ante Nuptias é um blog essencialmente pessoal e opinativo (o essencialmente foi pra soar bonito). Ocasionalmente, outras coisas e Chopin poderão aparecer, mas apenas ocasionalmente. Não, não vamos falar de Chopin. O melhor é nem falar em Chopin. Deixemo-lo para momentos estratégicos. Quando eu quiser fazer um drama, aí sim, hablaremos de Chopin. Meanwhile, o melhor é falarmos sobre Bach. Como é? Bach também não? Bom, então o melhor é nem falar em Bach. O melhor é pôr Bach e Chopin à parte.

So, let´s talk about books. Shall we?

Sempre me dá um desespero gigante ao comparar a quantidade de coisas que eu já li com a quantidade de coisas que ainda falta para ler. E olha que eu li bastante, olha que eu leio rápido. Mas a minha leitura avança numa progressão aritmética, enquanto a quantidade de livros a ler se expande numa progressão geométrica. Desse jeito, uma nunca vai alcançar a outra. Uma verdadeira angústia de rata-de-biblioteca. So many books but so little time..e esse desabafo tá ficando meio dramático. É impressão minha ou a récita de fundo (tão ouvindo?) é um Chopin? Um piano nocturne talvez? Ou, quem sabe, a Marcha Fúnebre? Eu acho que..

..sei lá, melhor não falarmos em Chopin. Então..então..então,diga-me,qual é mesmo a previsão do tempo pra amanhã, hein?

sábado, 22 de setembro de 2007

Sobre barbas, cegonhas e The Illusionist

Aviso aos navegantes: este post é pouco relevante e construtivo. E como tudo aquilo que a gente tem vontade de dizer mas “ah, quem vai querer saber disso?”, já me explodem à face bolotas vermelhas de acanhamento. É a represália do todo certinho, mestre das boas maneiras, o Mr.Alter Ego, assim mesmo no inglês que é para soar mais chic. Um dia, deus queira, terei a boa graça de compreender a estranha relação entre as “coisas pouco relevantes e construtivas” e a súbita "vergonha”. Algo deveras complexo, ainda mais quando a vergonha não tem um pingo de vergonha.
Basta dizer “vergonha” em alto e bom som, diz aí: VER-GONHA. Esse “gonha”, que eu não separei de propósito, não soa meio sem vergonha? Gonha, gonha, gonha, gonha, gonha. Sei lá, talvez seja a remota memória dos meus tempos de bípede sem pena, tempos de “é isto um bebê, um homem ou (por que não) um frango despenado?"
Tem ainda a tal cegonha que faz entregas para o papai e para mamãe, a Cevergonha. Gonha, gonha, gonha, gonha, gonha (e aí, já se convenceu?). Pelas barbas de Shakespeare, são muitos embaraços para um blog tão jovem; deixemo-los de lado e vamos ao que interessa, sem vergonhices desta vez.

Depois de alugar o dvd e assistir ao O Ilusionista, me bateu uma vontade, mas uma vontade de escrever sobre barbas, dá pra acreditar? Você deve tá me olhando com uma cara de bicho brabo, tipo “Não acredito que li toda essa baboseira pra, o quê mesmo? ah,barbas?”. Difícil de engolir, né? Tá vermelho(a) de raiva, imagino. Porém, peço mais um minuto de sua atenção, o suficiente para me redimir. Quem assistiu ao filme há de se lembrar da cena na qual Eisenheim e sua amada se encontram na choupana do mágico e se rendem aos prazeres do amor. Uma das mais belas e sensuais, diga-se de passagem. Vocês vão se lembrar porque para essas coisas a memória a humana é de elefante. Pois bem, na cena do "encontro entre os corpos", o rosto dele tocando no rosto dela estabelece a primeira união. Pele na pele e voi-lá: diálogo silencioso que traduz a sede dos sentidos. Daí eu fiquei cá com meus insights..o toque da barba no rosto suave de uma mulher representa um sinal de amor tão ofensivo quanto delicado. Você leitor do sexo masculino que tem barba e namorada, esposa e ou amante, deve saber bem o que é isso. É claro, tem que gostar da moça de verdade pra entender, capisci? Eu não tenho namorada, muito menos barba, mas gosto de imaginar como deve ser. No mínimo, o toque na pele é um gesto digno de reflexão.
A barba do homem que ofende a delicadeza da mulher pode ser uma ofensa feliz. Como a fecundação, que é uma festa e uma ofensa ao mesmo tempo. Impossível não me comover com a cena. Muito disso a gente ver por aí, pelas ruas, nos bares, nos banquinhos das praças, no cinema (vixe, aí tem a balde!). O mundo está repleto de Eisenheims e princesas Sofies. E tu, ô barbudão, já encontrou tua princesa Sofie?

Quanto ao filme, cá entre nós (e esse comentário é só para as moças, então, por favor, tampem os ouvidos meninos), ver o Edward Norton sem nada para esconder,do jeitinho que veio ao mundo, aiaiaiai.. é tudo: barba, cabelo e bigode.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Crianças do mundo, uni-vos!!

Guarda-chuvinhas de chocolate e jujubas são bem-vindos. Por favor,tragam um pouco de paz e carinho necessários à cura. Uma vida de sustos. Tudo sempre grande e distorcido demais para sua capacidade de compreender e aceitar. Peço desculpas à pequena por ter sido às vezes dura e negligente com seus desideratos. Sempre reprimi sua timidez, que transfigurei em um semblante firme e destemido. Mas seus olhos ainda possuem um espanto. Como o da criança que recua frente ao adulto que não conhece. Peço perdão à minha criança por tê-la impelido tão abruptamente ao pensamento reto, coerente e frio. Por ter abafado suas fantasias, suas vacilações, seu medos, seus prantos. Fadas. Fatos. Fardos. Atos Falhos. Não fale pequena. Cale. Fiz com que desenvolvesse uma fala hábil. Fala fácil.
Silêncio.
Afasia.
Singular.
E-l-o-q-u-ê-n-c-i-a singular.

Nada muda.
Muda tudo.
Árvore.
Plante uma árvore e escreva um livro.

Abram espaço pra pequena bricar.
Corre livre no gramado da memória.
Cheiro de terra molhada. Casa da avó.

De pés descalços em terra estranha.

Montinhos de areia. Seu Império.

Amoras maduras. Goiabas verdes.

Pular carniça.
Cair. ralar. dói bastante. Dor de ouvido.
Gargalhadas de prazer.
Espontaneidade.

Ela sabia conversar com os bichos, plantas e tartarugas.
Adorava molhar o jardim.
Criava sua própria versão do Dilúvio. Era o seu próprio deus-deusa.
O das formigas também. Barquinhos de papel salvavam-nas da morte por afogamento.

Cedo demais, numa noite, ela se descobriu só.
Desaprendeu a espontaneidade.
Ela se limitou por que se fez inteligente.

Agora usa óculos. Toma café. E escreve.

Antes Pintava. Enxergava no escuro.

Estrela distraída..

Minha criança ainda brinca. Não se esqueceu de brincar.
Só que cada dia encontra menos gente que o saiba.
Mas em seu olhar ainda permanece o surto, o susto
e o espanto.

E já se vão vinte e...er,poucos anos.