domingo, 23 de dezembro de 2007

Ho-ho-ho-ho! romano

Daqui a exatamente 24 horas todos estaremos comemorando o nascimento de Cristo. Eu também, mas por outros motivos. Um deles é que dispensar a senhora bacalhoada da mama é tarefa árdua, para poucos,sucumbo sempre, antes ou depois do badalar dos sinos.

Mas, veja bem, há ainda um outro motivo. É notório e do conhecimento geral (você sabe disso né?) que o nascimento do chamado Jesus histórico (ou seja, me refiro aqui ao homem, não ao ícone) se deu longe da passagem do dia 24 para o dia 25 de dezembro do Ano Zero, mas sim no dia 17 do mês de Abril e seis anos antes do marco oficial.


Antes que alguém pergunte de onde eu tirei essas preciosidades religioso-intelectuais e se precipite a chamar o carrinho do manicômio, permitam-me: essas conjecturas são o resultado de alguns intermináveis momentos de curiosidade folheando um bocado de livros do acervo, digamos.. holístico de minha mãe E como não poderia faltar, a melhor e mais fidedigna fonte de informação do universo, o “ouvi dizer que”. Pois bem, eu ouvi dizer que indicações contidas nos próprios Evangelhos permitem deduzir que Jesus tenha nascido, provavelmente, seis anos antes da data oficial.

Por que então comemoramos o Natal na virada do dia 24 para 25 de dezembro? Veja bem, embora o 24 de dezembro não seja uma data histórica, tem um significado simbólico. Nesse dia, os romanos celebravam o festival do Sol Invictus, que comemorava o renascimento do Sol após o solstício de inverno no hemisfério norte.
A opinião tradicional é que os primeiros cristãos se apropriaram da data como parte de um programa deliberado de incorporar elementos pagãos tradicionais a fim de tornar o cristianismo atraente para os não-cristãos. Esse mesmo programa levou ao costume de transformar os antigos templos da "Grande Deusa", da "Mãe Natureza" (ou como queiram) em igrejas consagradas à Virgem Maria e a canonizar santos que não passavam de divindades pagãs cristianizadas. Um exemplo bem conhecido de todos nós é São Jorge, que é a versão cristã de Ares/Marte. Fato é que e essa cristianização do paganismo também implicava inevitavelmente uma paganização do cristianismo, de modo que vários símbolos tradicionais foram preservados sob uma nova forma.

Agora, um momento de silêncio e uma inspiração bem profunda pra oxigenar o cérebro. uma pitadinha de trivialidades psicanalísticas e temos o seguinte: a Virgem Maria de fato é uma nova encarnação do arquétipo da Grande Mãe e São Jorge realmente incorpora as mesmas energias arquetípicas que o mundo greco-romano personificava em Ares/Marte. Da mesma forma, em termos simbólicos, o nascimento de Cristo é análogo ao surgimento do tal Sol Invictus em 24 de dezembro, daí a coincidência da data.

Antes que esse texto se torne um martírio, vamos à pergunta que não quer calar: Mas qual é o significado simbólico do Sol Invictus?
Resposta: A luz da consciência.

Num primeiro nível de leitura, o nascimento do Sol após o solstício de inverno representa o triunfo da vida (o Sol) sobre as forças da morte (os rigores do inverno)..Mas não para por aí não. Em Jung, o simbolismo mitológico é tomado como símbolo de uma realidade psíquica (a Grande Mãe = natureza = inconsciente.. e por aí vai) Assim, Cristo não é meramente uma representação antropomórfica do Sol, mas a personificação de um aspecto da psique que também é simbolizado pelo Sol. A luz do Sol simboliza a luz da consciência e o astro da qual ela emana representa a fonte da consciência, ou seja, o Si-mesmo. Em outras palavras, quando o solstício de inverno começou a ser comemorado, sua finalidade original era celebrar o nascimento da consciência a partir das trevas do inconsciente, isto é, o momento na história em que o ser humano torna-se uma criatura consciente.
No entanto, chega um determinado estágio em que a consciência atinge o máximo que é possível crescer dentro dos limites estreitos do ego e da sociedade. O inverno torna-se, com isso, uma representação dramática do que Shakespeare chamou de o inverno de nossa desesperança, algo próximo à civilization and its discontents freudiana.

Se o nascimento da consciência era o significado exotérico do nascimento do Sol Invictus, seu sentido esotérico é o triunfo da consciência sobre o inconsciente e o ego, e plena encarnação do Si-mesmo no indivíduo. É essa encarnação que o mito de Cristo dramatiza, a realização integral de nosso potencial como seres humanos dotados de uma essência divina. Se há algo que vale a pena comemorar no Natal, é esse advento.

*Aos casuais peregrinos virtuais que por aqui passarem, um Feliz Natal!
**Não se esqueçam de colocar seus sapatinhos na janela.
***Quem acordar primeiro, sacode quem estiver do lado (e prepara o capuccino).
****Folhas douradas,Paz e Plenitude para todos. ;)