Tive uma professora de Literatura, nos tempos de colégio, que costumava dizer que quem gosta de literatura simpatiza com a idéia de que as possibilidades de conhecimentos são infinitas. Ou seja, de que não é humanamente possível conhecer tudo sobre determinado assunto. Bom, até aí tudo bem. Ninguém é tão sabichão assim, responda rápido: Sri Jayawardenapura-Kotte é a capital de que país? Tic-tac, tic-tac, bén! Tá vendo?, não dá pra saber tudo. O que incomoda de verdade, na minha opinião, são as possiblidades infinitas.
Por mais inebriante que seja mergulhar num bom livro, sempre me ocorre um sentimento de frustração quando virada a página derradeira. Millôr Fernades, em texto na Veja desta semana, resumiu (melhor que a tia da escola)a sensação: “Quando leio um livro, e leio com toda atenção, terminada a leitura entendi ou guardei apenas 10% do que li. E ampliei 90% o universo da minha ignorância. Isso é Cultura ”. Melhor explicação não há.
Quanto à questão, a resposta é Sri Lanka . Wikipedia,wikipedia...
domingo, 25 de maio de 2008
domingo, 13 de abril de 2008
Perdas inerentes
O Prosa e Verso do Globo deste sábado (que veio meio chocho, com cara de obrigação e sem a menor empolgação) trouxe na matéria de capa a divulgação de um ciclo de palestras da Associação Brasileira de Letras aqui no Rio. “Vida Vício Virtude” pretende discutir a atualidade de algumas palavras e suas relações com as mutações nos valores da sociedade contemporânea. Entre os diversos termos-chaves a serem explorados pelos palestrantes - sabedoria, injustiça, intemperança, vergonha e liberdade, etc – a palavra amizade é que me saltou aos olhos. O jornalista Marcelo Coelho, palestrante incumbido do termo, diz algo singelo, meio lugar-comum, porém pertinente, sobre o conceito. “Seria excessivamente pessimista imaginar o ‘fim’ de uma forma de relacionamento tão ampla e autenticamente humana quanto a amizade”, diz ele na matéria.
Não por acaso eu havia retornado de um aprazível almoço (medalhão de frango com arroz à piamontese, hummma delícia!) com pessoas que me são caras. Um seleto e diminuto grupo,é verdade, pois não sou chegada à intimidades em larga escala, prefiro qualidade à quantidade; conforto (entenda-se bem-estar e paz de espírito) ao luxo (entenda-se frivolidades sociais). E conversa vai conversa vem, anedotas daqui e dali e lembranças arrancadas do fundo do baú, um susto. E como todo – e bom – susto que se preza, ele veio seguido de uma suspensão do pensamento, da respiração, e então tudo era só silêncio. Eis que uma forma difusa e vaga de percepção adormecida, porém muito real, entrou em cena. Alí, numa mesa do La Mole, eu fora acometida da sensação, algo inexplicável cuja definição mais próxima a que chego - ainda assim com um pé atrás, pois como diria Oscar Wilde, “definir é limitar” - seria a de uma espécie de tristeza feliz.
Ali, reunida com amigos (embora fossem todas meninas, uso o termo no masculino, pois se aplica a situações mais gerais em que também experimentei a mesma sensação) senti uma paz profunda e a certeza de que estava e estou (estamos) cumprindo misteriosas e inexplicáveis missões. Eu sabia que estava no meu próprio ponto. No caminho de casa, aquela sensação permanecia, bem como permanecia – e aumentava - o desejo de compreende-la mais a fundo e de compartilhá-la com algum possível interlocutor. Muito embora seja necessário reconhecer que através de uma definição, por mais simplória e delimitante que seja, desconhecidos possam formar uma melhor imagem do objeto-sensação em questão, segue o resultado de uma conjectura ousada, pois breve e limitada verbalização de uma emoção:
No ato de sentir- se feliz associa-se a idéia do passageiro que é tudo, do amanhã cheio de interrogações, da exceção que aquilo significa. Pois há uma perda inerente a cada encontro, que desperta a consciência agridoce do não ter na hora do ter. Tristeza feliz é assim, agridoce. Tristeza feliz é a que surge depois de encontros verdadeiros, que prescindem de palavras. Encontros verdadeiros são os que se dão de inteligência para inteligência. Sente-se no ar, na pele, na ponta dos dedos, que eles realizam em cada pessoa a parte delas que ficou pura e melhor, que se sublimou. E a vida segue assim, como um espetáculo de balé ou uma ópera, repleta de amor, drama, encontros, desencontros e sublimação.
Grandes encontros acontecem entre grandes amigos, e nenhum escritor definiu tão bem o que chamo de encontro de inteligências - o reconhecer um amigo - como Oscar Wilde nos primeiros versos de Loucos e Santos: "Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante".
Não por acaso eu havia retornado de um aprazível almoço (medalhão de frango com arroz à piamontese, hummma delícia!) com pessoas que me são caras. Um seleto e diminuto grupo,é verdade, pois não sou chegada à intimidades em larga escala, prefiro qualidade à quantidade; conforto (entenda-se bem-estar e paz de espírito) ao luxo (entenda-se frivolidades sociais). E conversa vai conversa vem, anedotas daqui e dali e lembranças arrancadas do fundo do baú, um susto. E como todo – e bom – susto que se preza, ele veio seguido de uma suspensão do pensamento, da respiração, e então tudo era só silêncio. Eis que uma forma difusa e vaga de percepção adormecida, porém muito real, entrou em cena. Alí, numa mesa do La Mole, eu fora acometida da sensação, algo inexplicável cuja definição mais próxima a que chego - ainda assim com um pé atrás, pois como diria Oscar Wilde, “definir é limitar” - seria a de uma espécie de tristeza feliz.
Ali, reunida com amigos (embora fossem todas meninas, uso o termo no masculino, pois se aplica a situações mais gerais em que também experimentei a mesma sensação) senti uma paz profunda e a certeza de que estava e estou (estamos) cumprindo misteriosas e inexplicáveis missões. Eu sabia que estava no meu próprio ponto. No caminho de casa, aquela sensação permanecia, bem como permanecia – e aumentava - o desejo de compreende-la mais a fundo e de compartilhá-la com algum possível interlocutor. Muito embora seja necessário reconhecer que através de uma definição, por mais simplória e delimitante que seja, desconhecidos possam formar uma melhor imagem do objeto-sensação em questão, segue o resultado de uma conjectura ousada, pois breve e limitada verbalização de uma emoção:
No ato de sentir- se feliz associa-se a idéia do passageiro que é tudo, do amanhã cheio de interrogações, da exceção que aquilo significa. Pois há uma perda inerente a cada encontro, que desperta a consciência agridoce do não ter na hora do ter. Tristeza feliz é assim, agridoce. Tristeza feliz é a que surge depois de encontros verdadeiros, que prescindem de palavras. Encontros verdadeiros são os que se dão de inteligência para inteligência. Sente-se no ar, na pele, na ponta dos dedos, que eles realizam em cada pessoa a parte delas que ficou pura e melhor, que se sublimou. E a vida segue assim, como um espetáculo de balé ou uma ópera, repleta de amor, drama, encontros, desencontros e sublimação.
Grandes encontros acontecem entre grandes amigos, e nenhum escritor definiu tão bem o que chamo de encontro de inteligências - o reconhecer um amigo - como Oscar Wilde nos primeiros versos de Loucos e Santos: "Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante".
domingo, 6 de abril de 2008
Suasórias [ou coisas convincentemente bonitas]
Sono, que é bom, nada é o nome do filme que protagonizo todas as noites. Morpheus, o homem do "Corta!", é sempre o último a chegar e o último a sair. A gente se dá bem, já me conformei. É assim todos os dias desde meus doze anos (ou onze, sei lá, tô chutando) Mas há dias... há dias em que tenho pulgas na cama e caraminholas na mente. Levanto aos trancos e barrancos, assustando até assombração (saca pomada minâncora? aquela da época de nossos bisavós, da embalagem laranja brega com um marinheiro carregando uma ancora na tampa? é bom pra pele, do rosto principalmente, mas não é nada bonito sabe, não mesmo), pego um caderninho e uma caneta e ponho o preto no branco. Isso porque - e aqui confesso minha completa incompetência para esvaziar a cachola antes de dormir - não consigo por ordem no bafafá, no zumzumzum, nas trivialidaes que por vezes me ocorrem, a não ser botando tudo no papel. Foi assim anteontem, lá pelas tantas da madrugada.
“Devo ter exagerado no chá verde”, pensei, “ou foi no mate?”, “Chá não é leite minha filha”, ouvi meu alter-ego, ou minha mãe? Vai saber. Fato é que, madrugada a dentro, me vem à mente uma idéia. Uma não, várias. Vejam bem, quando umazinha se quer dessas criaturas (sim criaturas) bate o pé, e bate o pé e bate o pé..meu deus, chego a ter palpitações. “Talvez tenha sido um reflexo de uma atividade recente”, pensei, tipo ter escrito mais de 6000 caracteres para um trabalho da faculdade ou do estágio, ou quem sabe por ter tomado a leitura do caderno literário do jornal de sábado como ultima atividade do dia, vai saber.
A verdade é que acordei cheia de energia e pensando em muita coisa, a maioria bonita, embora a frase não faça sentido, pois ta aí uma dupla que em nada combina - coisa e bonita. Mas, foi quando adentraram-me o casco alguns dos meus autores preferidos (há dias em que aparecem todos ao mesmo tempo!) declamando passagens memoráveis de suas obras, verdadeiras cantigas de ninar para adultos - não que eu me considere uma adulta, apesar dos 22, e de God Bless the Child na voz de Nina Simone, mas não imagino um enfant lendo Jane Austen, Joyce, Oscar Wilde, Fitzgerald, e a lista não acaba aí, o post quase - que cheguei a uma conclusão.
Eu realmente aprecio quem fala convincentemente de coisas bonitas. Há pessoas que falam de forma tão convincente sobre coisas tão bonitas que eu não resisto. E pensar em coisas bonitas definitivamente me faz querer prolongar ad infinitum o crepúsculo. E ponto final.
Pus o lápis de lado, o caderninho de anotações na cabeceira e, meus irmãos, voltei à paz de um sono tranqüilo. Pois há dias assim... Há dias em que em que a gente acorda com uma estranha vontade. Dias em que não se consegue parar, em que a noite passa devagar. Há dias em que me deito sem perceber o porquê de tudo isto.
“Devo ter exagerado no chá verde”, pensei, “ou foi no mate?”, “Chá não é leite minha filha”, ouvi meu alter-ego, ou minha mãe? Vai saber. Fato é que, madrugada a dentro, me vem à mente uma idéia. Uma não, várias. Vejam bem, quando umazinha se quer dessas criaturas (sim criaturas) bate o pé, e bate o pé e bate o pé..meu deus, chego a ter palpitações. “Talvez tenha sido um reflexo de uma atividade recente”, pensei, tipo ter escrito mais de 6000 caracteres para um trabalho da faculdade ou do estágio, ou quem sabe por ter tomado a leitura do caderno literário do jornal de sábado como ultima atividade do dia, vai saber.
A verdade é que acordei cheia de energia e pensando em muita coisa, a maioria bonita, embora a frase não faça sentido, pois ta aí uma dupla que em nada combina - coisa e bonita. Mas, foi quando adentraram-me o casco alguns dos meus autores preferidos (há dias em que aparecem todos ao mesmo tempo!) declamando passagens memoráveis de suas obras, verdadeiras cantigas de ninar para adultos - não que eu me considere uma adulta, apesar dos 22, e de God Bless the Child na voz de Nina Simone, mas não imagino um enfant lendo Jane Austen, Joyce, Oscar Wilde, Fitzgerald, e a lista não acaba aí, o post quase - que cheguei a uma conclusão.
Eu realmente aprecio quem fala convincentemente de coisas bonitas. Há pessoas que falam de forma tão convincente sobre coisas tão bonitas que eu não resisto. E pensar em coisas bonitas definitivamente me faz querer prolongar ad infinitum o crepúsculo. E ponto final.
Pus o lápis de lado, o caderninho de anotações na cabeceira e, meus irmãos, voltei à paz de um sono tranqüilo. Pois há dias assim... Há dias em que em que a gente acorda com uma estranha vontade. Dias em que não se consegue parar, em que a noite passa devagar. Há dias em que me deito sem perceber o porquê de tudo isto.
segunda-feira, 24 de março de 2008
Entrada franca: clique aqui
Tem certos filmes, de certos diretores, que a gente paga até entrada inteira no cinema e ainda tasca uma beijoka na bochecha do lanterninha tamanha a felicidade. Tá, podem parar de fazer que sim com a cabeça, vocês concordam, ok. Mas, e se por uma ironia mal-cheirosa do destino filmes dessa natureza não circulem pelas salas de cinema brazucas? Aí é sentar e chorar. Por exemplo, as obras de Hou Hsiao-Hsien, uma das figuras emblemáticas do novo cinema taiwanês, nunca (never, ever) foram exibidas comercialmente por aqui. Pra alguém que não o conhece, fica tudo como d´antes no reino de Abrantes. Mas imagino como ficaria uma pessoa que tenha o mínimo de sensibilidade artística se soubesse que sobre o tal Who-who-quem escreveu certa vez o crítico de cinema Ruy Gardnier:
“Cada vez que se vê uma das grandes cenas de Hou Hsiao-hsien, tem-se a impressão que seu cinema sempre alarga e ultrapassa a visão tradicional de linguagem cinematográfica(...) O cinema de HHH entretém com o espectador um jogo que só pode fazer sentido após o término de cada filme. (...)Um cinema da inteligência, porque é o espectador que tem que construir a história na sua cabeça. Mas um cinema também da beleza, do gozo do olho, da mestria no uso da câmera, da sedução. Hou entende os mecanismos do cinema: extrai uma beleza profunda (porque exige um feedback do espectador) ao mesmo tempo que oferece ao espectador um banquete visual primoroso. Godard dizia: lutar em duas frentes. Hou pode-se dizer adepto”. (trecho extraído de resenha publicada na revista eletrônica Contracampo)
Agora, a quem interessar possa, a UFRJ realiza nos próximos dias uma mostra com seletas obras do diretor. Totalmente 0800. É só clicar no pouco sugestivo título do post.
“Cada vez que se vê uma das grandes cenas de Hou Hsiao-hsien, tem-se a impressão que seu cinema sempre alarga e ultrapassa a visão tradicional de linguagem cinematográfica(...) O cinema de HHH entretém com o espectador um jogo que só pode fazer sentido após o término de cada filme. (...)Um cinema da inteligência, porque é o espectador que tem que construir a história na sua cabeça. Mas um cinema também da beleza, do gozo do olho, da mestria no uso da câmera, da sedução. Hou entende os mecanismos do cinema: extrai uma beleza profunda (porque exige um feedback do espectador) ao mesmo tempo que oferece ao espectador um banquete visual primoroso. Godard dizia: lutar em duas frentes. Hou pode-se dizer adepto”. (trecho extraído de resenha publicada na revista eletrônica Contracampo)
Agora, a quem interessar possa, a UFRJ realiza nos próximos dias uma mostra com seletas obras do diretor. Totalmente 0800. É só clicar no pouco sugestivo título do post.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
It´s Showtime
É curiosa a sensação de ler teoria. Eu sempre experimento a vontade de que todas as pessoas compartilhem daquelas idéias como de uma doutrina obrigatória. A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord, é um livro que deveria ser lido e compreendido por todos. Mudaria o mundo se obtivesse a penetração de uma Bíblia ou de um livro recém lançado do Paulo Coelho. Mas não. Ele não está lá para ajudar. E muito menos para ser entendido por todos. Eu mesma vou ter que comprar e ler algumas vezes para poder me arrogar a condição de entendida em algumas daquelas idéias. Por enquanto vou, aos espirros e coceiras no nariz, me entendendo com um exemplar emprestado da biblioteca da faculdade.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
These quiet days
Passada a folia de carnaval, a quarta-feira de cinzas chegou nebulosa. Alguém que amo e que sempre esteve presente em minha vida quase vai embora. Quase.
Suando frio e sentindo fortes dores no peito, seu Leonel - meu avô - foi internado e submetido a uma operação de emergência em estado de choque depos de ter infartado.
“Deixem-me explicar a vocês de uma forma simples: é como uma plantinha que fica sem receber água e então murcha. A gente pode colocar água novamente e ela talvez fique em pleno vigor, ou não. Aí, já era. O que nós fizemos foi liberar a passagem para o sangue voltar a irrigar o coração, mas agora não depende mais de nós”.
Foi assim que o médico explicou o quadro de saúde de meu grandparent. Grand de grande pai mesmo.
Graças a Deus - e aqui não uso a expressão como ‘forma de expressão'-, a plantinha em questão gosta muito dessa vida. Suas raízes são rijas e bem fincadas na terra.
Meu vô “abriu os olhos” sexta-feira, num gesto triunfal, indescritível. Ele voltou como o sol que nasce após o solstício de inverno. E eu voltei também. Mas, no peito, ficou a estranha consciência da condição humana, de nossa finitude e fragilidade cotidianas. Somos gramíneas brincando de oliveiras. Na mente, dois versos de uma música que diz tudo aquilo que a gente precisa levar na bagagem:"love is a temple, love is the higher law.." E isso basta.
Suando frio e sentindo fortes dores no peito, seu Leonel - meu avô - foi internado e submetido a uma operação de emergência em estado de choque depos de ter infartado.
“Deixem-me explicar a vocês de uma forma simples: é como uma plantinha que fica sem receber água e então murcha. A gente pode colocar água novamente e ela talvez fique em pleno vigor, ou não. Aí, já era. O que nós fizemos foi liberar a passagem para o sangue voltar a irrigar o coração, mas agora não depende mais de nós”.
Foi assim que o médico explicou o quadro de saúde de meu grandparent. Grand de grande pai mesmo.
Graças a Deus - e aqui não uso a expressão como ‘forma de expressão'-, a plantinha em questão gosta muito dessa vida. Suas raízes são rijas e bem fincadas na terra.
Meu vô “abriu os olhos” sexta-feira, num gesto triunfal, indescritível. Ele voltou como o sol que nasce após o solstício de inverno. E eu voltei também. Mas, no peito, ficou a estranha consciência da condição humana, de nossa finitude e fragilidade cotidianas. Somos gramíneas brincando de oliveiras. Na mente, dois versos de uma música que diz tudo aquilo que a gente precisa levar na bagagem:"love is a temple, love is the higher law.." E isso basta.
domingo, 23 de dezembro de 2007
Ho-ho-ho-ho! romano
Daqui a exatamente 24 horas todos estaremos comemorando o nascimento de Cristo. Eu também, mas por outros motivos. Um deles é que dispensar a senhora bacalhoada da mama é tarefa árdua, para poucos,sucumbo sempre, antes ou depois do badalar dos sinos.
Mas, veja bem, há ainda um outro motivo. É notório e do conhecimento geral (você sabe disso né?) que o nascimento do chamado Jesus histórico (ou seja, me refiro aqui ao homem, não ao ícone) se deu longe da passagem do dia 24 para o dia 25 de dezembro do Ano Zero, mas sim no dia 17 do mês de Abril e seis anos antes do marco oficial.
Antes que alguém pergunte de onde eu tirei essas preciosidades religioso-intelectuais e se precipite a chamar o carrinho do manicômio, permitam-me: essas conjecturas são o resultado de alguns intermináveis momentos de curiosidade folheando um bocado de livros do acervo, digamos.. holístico de minha mãe E como não poderia faltar, a melhor e mais fidedigna fonte de informação do universo, o “ouvi dizer que”. Pois bem, eu ouvi dizer que indicações contidas nos próprios Evangelhos permitem deduzir que Jesus tenha nascido, provavelmente, seis anos antes da data oficial.
Por que então comemoramos o Natal na virada do dia 24 para 25 de dezembro? Veja bem, embora o 24 de dezembro não seja uma data histórica, tem um significado simbólico. Nesse dia, os romanos celebravam o festival do Sol Invictus, que comemorava o renascimento do Sol após o solstício de inverno no hemisfério norte.
A opinião tradicional é que os primeiros cristãos se apropriaram da data como parte de um programa deliberado de incorporar elementos pagãos tradicionais a fim de tornar o cristianismo atraente para os não-cristãos. Esse mesmo programa levou ao costume de transformar os antigos templos da "Grande Deusa", da "Mãe Natureza" (ou como queiram) em igrejas consagradas à Virgem Maria e a canonizar santos que não passavam de divindades pagãs cristianizadas. Um exemplo bem conhecido de todos nós é São Jorge, que é a versão cristã de Ares/Marte. Fato é que e essa cristianização do paganismo também implicava inevitavelmente uma paganização do cristianismo, de modo que vários símbolos tradicionais foram preservados sob uma nova forma.
Agora, um momento de silêncio e uma inspiração bem profunda pra oxigenar o cérebro. uma pitadinha de trivialidades psicanalísticas e temos o seguinte: a Virgem Maria de fato é uma nova encarnação do arquétipo da Grande Mãe e São Jorge realmente incorpora as mesmas energias arquetípicas que o mundo greco-romano personificava em Ares/Marte. Da mesma forma, em termos simbólicos, o nascimento de Cristo é análogo ao surgimento do tal Sol Invictus em 24 de dezembro, daí a coincidência da data.
Antes que esse texto se torne um martírio, vamos à pergunta que não quer calar: Mas qual é o significado simbólico do Sol Invictus?
Resposta: A luz da consciência.
Num primeiro nível de leitura, o nascimento do Sol após o solstício de inverno representa o triunfo da vida (o Sol) sobre as forças da morte (os rigores do inverno)..Mas não para por aí não. Em Jung, o simbolismo mitológico é tomado como símbolo de uma realidade psíquica (a Grande Mãe = natureza = inconsciente.. e por aí vai) Assim, Cristo não é meramente uma representação antropomórfica do Sol, mas a personificação de um aspecto da psique que também é simbolizado pelo Sol. A luz do Sol simboliza a luz da consciência e o astro da qual ela emana representa a fonte da consciência, ou seja, o Si-mesmo. Em outras palavras, quando o solstício de inverno começou a ser comemorado, sua finalidade original era celebrar o nascimento da consciência a partir das trevas do inconsciente, isto é, o momento na história em que o ser humano torna-se uma criatura consciente.
No entanto, chega um determinado estágio em que a consciência atinge o máximo que é possível crescer dentro dos limites estreitos do ego e da sociedade. O inverno torna-se, com isso, uma representação dramática do que Shakespeare chamou de o inverno de nossa desesperança, algo próximo à civilization and its discontents freudiana.
Se o nascimento da consciência era o significado exotérico do nascimento do Sol Invictus, seu sentido esotérico é o triunfo da consciência sobre o inconsciente e o ego, e plena encarnação do Si-mesmo no indivíduo. É essa encarnação que o mito de Cristo dramatiza, a realização integral de nosso potencial como seres humanos dotados de uma essência divina. Se há algo que vale a pena comemorar no Natal, é esse advento.
*Aos casuais peregrinos virtuais que por aqui passarem, um Feliz Natal!
**Não se esqueçam de colocar seus sapatinhos na janela.
***Quem acordar primeiro, sacode quem estiver do lado (e prepara o capuccino).
****Folhas douradas,Paz e Plenitude para todos. ;)
Mas, veja bem, há ainda um outro motivo. É notório e do conhecimento geral (você sabe disso né?) que o nascimento do chamado Jesus histórico (ou seja, me refiro aqui ao homem, não ao ícone) se deu longe da passagem do dia 24 para o dia 25 de dezembro do Ano Zero, mas sim no dia 17 do mês de Abril e seis anos antes do marco oficial.
Antes que alguém pergunte de onde eu tirei essas preciosidades religioso-intelectuais e se precipite a chamar o carrinho do manicômio, permitam-me: essas conjecturas são o resultado de alguns intermináveis momentos de curiosidade folheando um bocado de livros do acervo, digamos.. holístico de minha mãe E como não poderia faltar, a melhor e mais fidedigna fonte de informação do universo, o “ouvi dizer que”. Pois bem, eu ouvi dizer que indicações contidas nos próprios Evangelhos permitem deduzir que Jesus tenha nascido, provavelmente, seis anos antes da data oficial.
Por que então comemoramos o Natal na virada do dia 24 para 25 de dezembro? Veja bem, embora o 24 de dezembro não seja uma data histórica, tem um significado simbólico. Nesse dia, os romanos celebravam o festival do Sol Invictus, que comemorava o renascimento do Sol após o solstício de inverno no hemisfério norte.
A opinião tradicional é que os primeiros cristãos se apropriaram da data como parte de um programa deliberado de incorporar elementos pagãos tradicionais a fim de tornar o cristianismo atraente para os não-cristãos. Esse mesmo programa levou ao costume de transformar os antigos templos da "Grande Deusa", da "Mãe Natureza" (ou como queiram) em igrejas consagradas à Virgem Maria e a canonizar santos que não passavam de divindades pagãs cristianizadas. Um exemplo bem conhecido de todos nós é São Jorge, que é a versão cristã de Ares/Marte. Fato é que e essa cristianização do paganismo também implicava inevitavelmente uma paganização do cristianismo, de modo que vários símbolos tradicionais foram preservados sob uma nova forma.
Agora, um momento de silêncio e uma inspiração bem profunda pra oxigenar o cérebro. uma pitadinha de trivialidades psicanalísticas e temos o seguinte: a Virgem Maria de fato é uma nova encarnação do arquétipo da Grande Mãe e São Jorge realmente incorpora as mesmas energias arquetípicas que o mundo greco-romano personificava em Ares/Marte. Da mesma forma, em termos simbólicos, o nascimento de Cristo é análogo ao surgimento do tal Sol Invictus em 24 de dezembro, daí a coincidência da data.
Antes que esse texto se torne um martírio, vamos à pergunta que não quer calar: Mas qual é o significado simbólico do Sol Invictus?
Resposta: A luz da consciência.
Num primeiro nível de leitura, o nascimento do Sol após o solstício de inverno representa o triunfo da vida (o Sol) sobre as forças da morte (os rigores do inverno)..Mas não para por aí não. Em Jung, o simbolismo mitológico é tomado como símbolo de uma realidade psíquica (a Grande Mãe = natureza = inconsciente.. e por aí vai) Assim, Cristo não é meramente uma representação antropomórfica do Sol, mas a personificação de um aspecto da psique que também é simbolizado pelo Sol. A luz do Sol simboliza a luz da consciência e o astro da qual ela emana representa a fonte da consciência, ou seja, o Si-mesmo. Em outras palavras, quando o solstício de inverno começou a ser comemorado, sua finalidade original era celebrar o nascimento da consciência a partir das trevas do inconsciente, isto é, o momento na história em que o ser humano torna-se uma criatura consciente.
No entanto, chega um determinado estágio em que a consciência atinge o máximo que é possível crescer dentro dos limites estreitos do ego e da sociedade. O inverno torna-se, com isso, uma representação dramática do que Shakespeare chamou de o inverno de nossa desesperança, algo próximo à civilization and its discontents freudiana.
Se o nascimento da consciência era o significado exotérico do nascimento do Sol Invictus, seu sentido esotérico é o triunfo da consciência sobre o inconsciente e o ego, e plena encarnação do Si-mesmo no indivíduo. É essa encarnação que o mito de Cristo dramatiza, a realização integral de nosso potencial como seres humanos dotados de uma essência divina. Se há algo que vale a pena comemorar no Natal, é esse advento.
*Aos casuais peregrinos virtuais que por aqui passarem, um Feliz Natal!
**Não se esqueçam de colocar seus sapatinhos na janela.
***Quem acordar primeiro, sacode quem estiver do lado (e prepara o capuccino).
****Folhas douradas,Paz e Plenitude para todos. ;)
Assinar:
Postagens (Atom)