terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
It´s Showtime
É curiosa a sensação de ler teoria. Eu sempre experimento a vontade de que todas as pessoas compartilhem daquelas idéias como de uma doutrina obrigatória. A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord, é um livro que deveria ser lido e compreendido por todos. Mudaria o mundo se obtivesse a penetração de uma Bíblia ou de um livro recém lançado do Paulo Coelho. Mas não. Ele não está lá para ajudar. E muito menos para ser entendido por todos. Eu mesma vou ter que comprar e ler algumas vezes para poder me arrogar a condição de entendida em algumas daquelas idéias. Por enquanto vou, aos espirros e coceiras no nariz, me entendendo com um exemplar emprestado da biblioteca da faculdade.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
These quiet days
Passada a folia de carnaval, a quarta-feira de cinzas chegou nebulosa. Alguém que amo e que sempre esteve presente em minha vida quase vai embora. Quase.
Suando frio e sentindo fortes dores no peito, seu Leonel - meu avô - foi internado e submetido a uma operação de emergência em estado de choque depos de ter infartado.
“Deixem-me explicar a vocês de uma forma simples: é como uma plantinha que fica sem receber água e então murcha. A gente pode colocar água novamente e ela talvez fique em pleno vigor, ou não. Aí, já era. O que nós fizemos foi liberar a passagem para o sangue voltar a irrigar o coração, mas agora não depende mais de nós”.
Foi assim que o médico explicou o quadro de saúde de meu grandparent. Grand de grande pai mesmo.
Graças a Deus - e aqui não uso a expressão como ‘forma de expressão'-, a plantinha em questão gosta muito dessa vida. Suas raízes são rijas e bem fincadas na terra.
Meu vô “abriu os olhos” sexta-feira, num gesto triunfal, indescritível. Ele voltou como o sol que nasce após o solstício de inverno. E eu voltei também. Mas, no peito, ficou a estranha consciência da condição humana, de nossa finitude e fragilidade cotidianas. Somos gramíneas brincando de oliveiras. Na mente, dois versos de uma música que diz tudo aquilo que a gente precisa levar na bagagem:"love is a temple, love is the higher law.." E isso basta.
Suando frio e sentindo fortes dores no peito, seu Leonel - meu avô - foi internado e submetido a uma operação de emergência em estado de choque depos de ter infartado.
“Deixem-me explicar a vocês de uma forma simples: é como uma plantinha que fica sem receber água e então murcha. A gente pode colocar água novamente e ela talvez fique em pleno vigor, ou não. Aí, já era. O que nós fizemos foi liberar a passagem para o sangue voltar a irrigar o coração, mas agora não depende mais de nós”.
Foi assim que o médico explicou o quadro de saúde de meu grandparent. Grand de grande pai mesmo.
Graças a Deus - e aqui não uso a expressão como ‘forma de expressão'-, a plantinha em questão gosta muito dessa vida. Suas raízes são rijas e bem fincadas na terra.
Meu vô “abriu os olhos” sexta-feira, num gesto triunfal, indescritível. Ele voltou como o sol que nasce após o solstício de inverno. E eu voltei também. Mas, no peito, ficou a estranha consciência da condição humana, de nossa finitude e fragilidade cotidianas. Somos gramíneas brincando de oliveiras. Na mente, dois versos de uma música que diz tudo aquilo que a gente precisa levar na bagagem:"love is a temple, love is the higher law.." E isso basta.
domingo, 23 de dezembro de 2007
Ho-ho-ho-ho! romano
Daqui a exatamente 24 horas todos estaremos comemorando o nascimento de Cristo. Eu também, mas por outros motivos. Um deles é que dispensar a senhora bacalhoada da mama é tarefa árdua, para poucos,sucumbo sempre, antes ou depois do badalar dos sinos.
Mas, veja bem, há ainda um outro motivo. É notório e do conhecimento geral (você sabe disso né?) que o nascimento do chamado Jesus histórico (ou seja, me refiro aqui ao homem, não ao ícone) se deu longe da passagem do dia 24 para o dia 25 de dezembro do Ano Zero, mas sim no dia 17 do mês de Abril e seis anos antes do marco oficial.
Antes que alguém pergunte de onde eu tirei essas preciosidades religioso-intelectuais e se precipite a chamar o carrinho do manicômio, permitam-me: essas conjecturas são o resultado de alguns intermináveis momentos de curiosidade folheando um bocado de livros do acervo, digamos.. holístico de minha mãe E como não poderia faltar, a melhor e mais fidedigna fonte de informação do universo, o “ouvi dizer que”. Pois bem, eu ouvi dizer que indicações contidas nos próprios Evangelhos permitem deduzir que Jesus tenha nascido, provavelmente, seis anos antes da data oficial.
Por que então comemoramos o Natal na virada do dia 24 para 25 de dezembro? Veja bem, embora o 24 de dezembro não seja uma data histórica, tem um significado simbólico. Nesse dia, os romanos celebravam o festival do Sol Invictus, que comemorava o renascimento do Sol após o solstício de inverno no hemisfério norte.
A opinião tradicional é que os primeiros cristãos se apropriaram da data como parte de um programa deliberado de incorporar elementos pagãos tradicionais a fim de tornar o cristianismo atraente para os não-cristãos. Esse mesmo programa levou ao costume de transformar os antigos templos da "Grande Deusa", da "Mãe Natureza" (ou como queiram) em igrejas consagradas à Virgem Maria e a canonizar santos que não passavam de divindades pagãs cristianizadas. Um exemplo bem conhecido de todos nós é São Jorge, que é a versão cristã de Ares/Marte. Fato é que e essa cristianização do paganismo também implicava inevitavelmente uma paganização do cristianismo, de modo que vários símbolos tradicionais foram preservados sob uma nova forma.
Agora, um momento de silêncio e uma inspiração bem profunda pra oxigenar o cérebro. uma pitadinha de trivialidades psicanalísticas e temos o seguinte: a Virgem Maria de fato é uma nova encarnação do arquétipo da Grande Mãe e São Jorge realmente incorpora as mesmas energias arquetípicas que o mundo greco-romano personificava em Ares/Marte. Da mesma forma, em termos simbólicos, o nascimento de Cristo é análogo ao surgimento do tal Sol Invictus em 24 de dezembro, daí a coincidência da data.
Antes que esse texto se torne um martírio, vamos à pergunta que não quer calar: Mas qual é o significado simbólico do Sol Invictus?
Resposta: A luz da consciência.
Num primeiro nível de leitura, o nascimento do Sol após o solstício de inverno representa o triunfo da vida (o Sol) sobre as forças da morte (os rigores do inverno)..Mas não para por aí não. Em Jung, o simbolismo mitológico é tomado como símbolo de uma realidade psíquica (a Grande Mãe = natureza = inconsciente.. e por aí vai) Assim, Cristo não é meramente uma representação antropomórfica do Sol, mas a personificação de um aspecto da psique que também é simbolizado pelo Sol. A luz do Sol simboliza a luz da consciência e o astro da qual ela emana representa a fonte da consciência, ou seja, o Si-mesmo. Em outras palavras, quando o solstício de inverno começou a ser comemorado, sua finalidade original era celebrar o nascimento da consciência a partir das trevas do inconsciente, isto é, o momento na história em que o ser humano torna-se uma criatura consciente.
No entanto, chega um determinado estágio em que a consciência atinge o máximo que é possível crescer dentro dos limites estreitos do ego e da sociedade. O inverno torna-se, com isso, uma representação dramática do que Shakespeare chamou de o inverno de nossa desesperança, algo próximo à civilization and its discontents freudiana.
Se o nascimento da consciência era o significado exotérico do nascimento do Sol Invictus, seu sentido esotérico é o triunfo da consciência sobre o inconsciente e o ego, e plena encarnação do Si-mesmo no indivíduo. É essa encarnação que o mito de Cristo dramatiza, a realização integral de nosso potencial como seres humanos dotados de uma essência divina. Se há algo que vale a pena comemorar no Natal, é esse advento.
*Aos casuais peregrinos virtuais que por aqui passarem, um Feliz Natal!
**Não se esqueçam de colocar seus sapatinhos na janela.
***Quem acordar primeiro, sacode quem estiver do lado (e prepara o capuccino).
****Folhas douradas,Paz e Plenitude para todos. ;)
Mas, veja bem, há ainda um outro motivo. É notório e do conhecimento geral (você sabe disso né?) que o nascimento do chamado Jesus histórico (ou seja, me refiro aqui ao homem, não ao ícone) se deu longe da passagem do dia 24 para o dia 25 de dezembro do Ano Zero, mas sim no dia 17 do mês de Abril e seis anos antes do marco oficial.
Antes que alguém pergunte de onde eu tirei essas preciosidades religioso-intelectuais e se precipite a chamar o carrinho do manicômio, permitam-me: essas conjecturas são o resultado de alguns intermináveis momentos de curiosidade folheando um bocado de livros do acervo, digamos.. holístico de minha mãe E como não poderia faltar, a melhor e mais fidedigna fonte de informação do universo, o “ouvi dizer que”. Pois bem, eu ouvi dizer que indicações contidas nos próprios Evangelhos permitem deduzir que Jesus tenha nascido, provavelmente, seis anos antes da data oficial.
Por que então comemoramos o Natal na virada do dia 24 para 25 de dezembro? Veja bem, embora o 24 de dezembro não seja uma data histórica, tem um significado simbólico. Nesse dia, os romanos celebravam o festival do Sol Invictus, que comemorava o renascimento do Sol após o solstício de inverno no hemisfério norte.
A opinião tradicional é que os primeiros cristãos se apropriaram da data como parte de um programa deliberado de incorporar elementos pagãos tradicionais a fim de tornar o cristianismo atraente para os não-cristãos. Esse mesmo programa levou ao costume de transformar os antigos templos da "Grande Deusa", da "Mãe Natureza" (ou como queiram) em igrejas consagradas à Virgem Maria e a canonizar santos que não passavam de divindades pagãs cristianizadas. Um exemplo bem conhecido de todos nós é São Jorge, que é a versão cristã de Ares/Marte. Fato é que e essa cristianização do paganismo também implicava inevitavelmente uma paganização do cristianismo, de modo que vários símbolos tradicionais foram preservados sob uma nova forma.
Agora, um momento de silêncio e uma inspiração bem profunda pra oxigenar o cérebro. uma pitadinha de trivialidades psicanalísticas e temos o seguinte: a Virgem Maria de fato é uma nova encarnação do arquétipo da Grande Mãe e São Jorge realmente incorpora as mesmas energias arquetípicas que o mundo greco-romano personificava em Ares/Marte. Da mesma forma, em termos simbólicos, o nascimento de Cristo é análogo ao surgimento do tal Sol Invictus em 24 de dezembro, daí a coincidência da data.
Antes que esse texto se torne um martírio, vamos à pergunta que não quer calar: Mas qual é o significado simbólico do Sol Invictus?
Resposta: A luz da consciência.
Num primeiro nível de leitura, o nascimento do Sol após o solstício de inverno representa o triunfo da vida (o Sol) sobre as forças da morte (os rigores do inverno)..Mas não para por aí não. Em Jung, o simbolismo mitológico é tomado como símbolo de uma realidade psíquica (a Grande Mãe = natureza = inconsciente.. e por aí vai) Assim, Cristo não é meramente uma representação antropomórfica do Sol, mas a personificação de um aspecto da psique que também é simbolizado pelo Sol. A luz do Sol simboliza a luz da consciência e o astro da qual ela emana representa a fonte da consciência, ou seja, o Si-mesmo. Em outras palavras, quando o solstício de inverno começou a ser comemorado, sua finalidade original era celebrar o nascimento da consciência a partir das trevas do inconsciente, isto é, o momento na história em que o ser humano torna-se uma criatura consciente.
No entanto, chega um determinado estágio em que a consciência atinge o máximo que é possível crescer dentro dos limites estreitos do ego e da sociedade. O inverno torna-se, com isso, uma representação dramática do que Shakespeare chamou de o inverno de nossa desesperança, algo próximo à civilization and its discontents freudiana.
Se o nascimento da consciência era o significado exotérico do nascimento do Sol Invictus, seu sentido esotérico é o triunfo da consciência sobre o inconsciente e o ego, e plena encarnação do Si-mesmo no indivíduo. É essa encarnação que o mito de Cristo dramatiza, a realização integral de nosso potencial como seres humanos dotados de uma essência divina. Se há algo que vale a pena comemorar no Natal, é esse advento.
*Aos casuais peregrinos virtuais que por aqui passarem, um Feliz Natal!
**Não se esqueçam de colocar seus sapatinhos na janela.
***Quem acordar primeiro, sacode quem estiver do lado (e prepara o capuccino).
****Folhas douradas,Paz e Plenitude para todos. ;)
sábado, 24 de novembro de 2007
Freud, me chicoteia!
Depois de umas doses de tequila, um hedonista pós-moderno sussurra ao ouvido da crente pudica: “O pudor é a forma mais sutil de perversão”.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Testemunha da História

Criada após a segunda guerra mundial, a agência capturou alguns dos eventos mais significativos da história; do desembarque dos soldados americanos em Normandia – o Dia D – até os conflitos entre o Hezbollah e Israel, passando pelas manifestações estudantis na Praça de Tien An Men, em Pequim.
Na exposição comemorativa de seus 60 anos, na Caixa Cultural do Rio, encontramos fotos jornalísticas prenhas de poesia. Quanto a isso não há dúvida. Com alto padrão de nitidez, precisão de cores, longevidade e uma composição ímpar, cada uma delas reflete a visão singular do fotógrafo, que se torna uma mistura de jornalista com artista.
Nas lentes de Bresson, a estética e abordagem humanista do instante decisivo. Coração, mente e câmera alinhados – ele pulsa com o ato fotográfico. Mais à frente, o humor de Elliot Erwitt, que retrata situações inusitadas e cômicas - mude o enquadramento e voilá: o hilário de nossa vida na terra.
A exposição, primeira coletiva da Magnum no Brasil, reúne imagens preciosas. Preciosas por um motivo muito simples: elas são cenas em que os “atores” desconhecem que participam de uma representação por vezes cômica, por vezes trágica da existência humana. Vale a pena conferir.
sábado, 27 de outubro de 2007
Circunlóquios à parte..
nos últimos dias, tenho me sentido à la Seu Sabino: "Não sou poeta e estou sem assunto."
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Pensando alto..
Terminada a semana de estágio escravo (ou como diz minha coordenadora, a semana foi “pauleira”!) e passada a entrevista com os autores do Elite da Tropa e com o Zé Padilha, do Tropa de Elite (olha que perdi um bocado de noites de sono por causa deles e da UFRJ)nada como começar a sexta-feira falando de coisas que estão fora do meu alcance, como as estrelas por exemplo. Parto do princípio de que se a simples contemplação de um céu estrelado já nos traz um pouco de paz e a sensação de vida eterna, então falar sobre – o que exige um pensar prévio – sei não, mas deve dar uma onda das boas. E eu espero, sinceramente, que toda a “pauleira” mundana fique bem, bem piquititinha. Em nome do Pai, do Filho..e assim seja!
ANTIGAMENTE, nossos antepassados olhavam as estrelas com a certeza de que elas sempre estariam lá, coladinhas no céu. Mas, num belo dia, (e eu ainda haverei de entender por que toda revelação sempre se dá num belo dia, e tenho certeza que isso se dará num belíssimo dia) elas se foram. Alguém mirou a abóbada celeste com uma luneta e constatou que não são apenas as coisas humanas que passam nessa vida. As estrelas também passam. Em sua composição há uma substância, um tal de éter, que - ora, vejam! - constitui tudo o que na terra existe e..passa.
O meu desejo mais profundo seria dizer que eu não passo,“eu passarinho”. Mas se até o velho Quintana, que se dizia passarinhar, passou, então creio que eu e você também passaremos. Simples assim. Entretanto, toda simplicidade tem um não sei o quê de complexo que me é integralmente estranho. Algo tão perfeitamente complexo e estranho que eu junto daqui, prego dali, corto aculá, faço mil e uma transformações (adequações) para torná-lo simples, posto que, até chegar nesse ponto, o complexo já se tornou familiar e, portanto, suportável.
Um verdadeiro esforço humano pelo “assegurar-se”; uma busca intrépida por controlar os acontecimentos. Eis que entra em cena o pensamento científico. Nascido do esforço de fazer com que nada haja de diferente no mundo. E dá-lhe esquemas, teoremas, cálculos, estatísticas..isso e aquilo. E se Newton não explica, Freud explica.
Ou a Física explica. A Física. Ela marcou o início de um mundo secularizado, sem paraísos, um mundo sem estrelas. De repente, a morte se tornou um limite infranqueável que esvazia a vida de sentidos. Vejam Newton: ergueu o véu, olhou pro alto e plaft! – uma maçãzada na cuca. Morreu biruta o rapaz. Agora, descansa em paz, quem sabe ao lado das estrelas de éter que partiram do reino do céu para.. pra onde hein? Pra onde se vai quando se deixa o céu? Where do all the stars go when they fade away?
Para onde vou eu - passageira que nem fez questão de comprar o bilhete de viagem – quando o trem começar a apitar? Piui! Piui! Será que dá pra passar a bola, tipo batatinha quente? Ou, como no pôquer, se abster do “check”, já que o prêmio nem é lá grande coisa? Afinal, nesse céu não há mais estrelas..
Mas, veja bem, não pretendo com isso dizer que a Ciência tira a graça da coisa toda, não mesmo. Certamente, ela perde de mil a zero para aquelas pedagogas dos serviços de orientação escolar, sabe? - as tias da beleza “puro pó-de-arroz”, cuja única fonte de prazer é falar sobre as “coisas sérias da vida” para uma platéia de jovens que estão com os hormônios, no mínimo, a 100 graus Celsius. Nada disso, longe de mim essa comparação. Não faz meu tipo cometer injustiças. Eu gosto da Ciência, gosto muito. E sou uma céptica.
Minha paixão pelas coisas do mundo me leva ao cepticismo. A um distanciamento preventivo diante do mistério. Ergo o véu, à la Newton, mas no lugar de maçãs, me vêm à face estrelas cadentes, que, embora finitas, são o que há de mais eterno pra essa passageira que vos fala. Lapsos de eternidade para uma vida tão breve. Eternas, materiais e surreais. Acasos singulares. Ou como dizia o velho Mário: "o encanto sobrenatural que há nas coisas da Natureza!..se nela algo te dá encanto ou medo, não me digas que seja feia ou má, é, acaso, singular”.
ANTIGAMENTE, nossos antepassados olhavam as estrelas com a certeza de que elas sempre estariam lá, coladinhas no céu. Mas, num belo dia, (e eu ainda haverei de entender por que toda revelação sempre se dá num belo dia, e tenho certeza que isso se dará num belíssimo dia) elas se foram. Alguém mirou a abóbada celeste com uma luneta e constatou que não são apenas as coisas humanas que passam nessa vida. As estrelas também passam. Em sua composição há uma substância, um tal de éter, que - ora, vejam! - constitui tudo o que na terra existe e..passa.
O meu desejo mais profundo seria dizer que eu não passo,“eu passarinho”. Mas se até o velho Quintana, que se dizia passarinhar, passou, então creio que eu e você também passaremos. Simples assim. Entretanto, toda simplicidade tem um não sei o quê de complexo que me é integralmente estranho. Algo tão perfeitamente complexo e estranho que eu junto daqui, prego dali, corto aculá, faço mil e uma transformações (adequações) para torná-lo simples, posto que, até chegar nesse ponto, o complexo já se tornou familiar e, portanto, suportável.
Um verdadeiro esforço humano pelo “assegurar-se”; uma busca intrépida por controlar os acontecimentos. Eis que entra em cena o pensamento científico. Nascido do esforço de fazer com que nada haja de diferente no mundo. E dá-lhe esquemas, teoremas, cálculos, estatísticas..isso e aquilo. E se Newton não explica, Freud explica.
Ou a Física explica. A Física. Ela marcou o início de um mundo secularizado, sem paraísos, um mundo sem estrelas. De repente, a morte se tornou um limite infranqueável que esvazia a vida de sentidos. Vejam Newton: ergueu o véu, olhou pro alto e plaft! – uma maçãzada na cuca. Morreu biruta o rapaz. Agora, descansa em paz, quem sabe ao lado das estrelas de éter que partiram do reino do céu para.. pra onde hein? Pra onde se vai quando se deixa o céu? Where do all the stars go when they fade away?
Para onde vou eu - passageira que nem fez questão de comprar o bilhete de viagem – quando o trem começar a apitar? Piui! Piui! Será que dá pra passar a bola, tipo batatinha quente? Ou, como no pôquer, se abster do “check”, já que o prêmio nem é lá grande coisa? Afinal, nesse céu não há mais estrelas..
Mas, veja bem, não pretendo com isso dizer que a Ciência tira a graça da coisa toda, não mesmo. Certamente, ela perde de mil a zero para aquelas pedagogas dos serviços de orientação escolar, sabe? - as tias da beleza “puro pó-de-arroz”, cuja única fonte de prazer é falar sobre as “coisas sérias da vida” para uma platéia de jovens que estão com os hormônios, no mínimo, a 100 graus Celsius. Nada disso, longe de mim essa comparação. Não faz meu tipo cometer injustiças. Eu gosto da Ciência, gosto muito. E sou uma céptica.
Minha paixão pelas coisas do mundo me leva ao cepticismo. A um distanciamento preventivo diante do mistério. Ergo o véu, à la Newton, mas no lugar de maçãs, me vêm à face estrelas cadentes, que, embora finitas, são o que há de mais eterno pra essa passageira que vos fala. Lapsos de eternidade para uma vida tão breve. Eternas, materiais e surreais. Acasos singulares. Ou como dizia o velho Mário: "o encanto sobrenatural que há nas coisas da Natureza!..se nela algo te dá encanto ou medo, não me digas que seja feia ou má, é, acaso, singular”.
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